Friday, 17 May 2024

Electric

 

Had I found you
before
Cold
Rain
Stone
Blood
Cigarettes
Ashes
Grey
Fog
A punch up
Angry
Mud
Bruised knees
Shaky elbows
Snaky minds
Lost
Toes
Snow
Gin
Then maybe
Just maybe
We’d still be
Electrically
Smiling Dancing Kissing Running Swimming Loving in the sea

For Mar

Friday, 6 October 2023

Paredes ou não




















Acho que quero um cão
ou um gato

ou uma planta.

Teria que arranjar 

uma caminha para o cão 

ou uma daquelas torres felpudas

ou um vaso de barro.

Talvez uma bicicleta 

sem rodas

ou um trampolim 

sem molas

ou uma passadeira

sem esteira

para fazer exercício 

sem sair do lugar.

Talvez arranje quadros novos

ou comece a pintar

ou volte a desenhar 

para viajar até ali e além 

sem sair do lar.

Acho que é tempo

de largar o minimilismo

abraçar o capitalismo

esvaziar a cabeça

e o coração,

encher a casa 

de mim próprio

e dos outros que passaram

ou que vão passando 

ou que vão passar

e construir um lar.

Vou precisar de ímanes

para pôr no frigorífico

e de jarros decorativos

cerâmicas variadas

e cálices medievais

e chaleiras japonesas

e cristais de cristal,

talvez que me torne escultor

ou apicultor.

Podia começar a fazer 

coisas em madeira

estantes flutuantes

estantes subterrâneas

estantes,

para pôr os meus livros

e as minhas jarrinhas

e as minhas pinturas

e as peças de madeira

e os livros dos outros.

Olha faz sol,

vou sair

e queimar a pele,

preciso de desprotector solar

e de fazer a mala

e de ir.

Sunday, 30 January 2022

Wild Geese


I think you just saved me

Just now

Right now

when you left

ages ago

you just saved me

from myself

now


so now I wonder

how can I save you

As if you needed saving from anything

but from shadowy mirrors of myself

As if your light didn’t blind self-proclaimed werewolves

and sun-dried mental vampires


love and a couch

cottage warmth

screeching cords of tensed wire

and immovable souls

resting in satisfaction

dreaming of sun-dried lovelessness


Let me mute these loud echoes of this chaos

in my saved turmoiled head

whilst loving you

in silenced distance


dreaming of saving you

from the need of saving me



For Jo Beth.

Sunday, 13 December 2015

Dorme

Picture: Skylight, Ireland.



A Lara dorme, na noite.
À janela, vejo os sonhos 
dos outros em construção.
Na umbra da face lunar, 
vejo os meus, reflectidos no sono.
Ela vira-se sobre si mesma, a Lara, 
enquanto dorme, na noite.
Os sonhos desenham-se no ar nocturno, 
no fumo disperso do cigarro.
Neste mentol, saboreio o respirar 
adormecido de um amor ainda silencioso.
Tudo dormente, tudo nocturno, 
naquela paz ansiosa que assalta o mundo 
imediatamente antes da euforia caótica.
A Lara dorme, na noite.
Enquanto sonho com ela acordada.
A ti, Lara, porque arde. *14

Saturday, 12 December 2015

Pétalas e Poeiras

Photo taken in Tasmania


Se não fosses tu e eu não eu e nós outros.
Se fosses livre e eu livre e nós pássaros. 
Corvos entrelaçados numa tatuagem aérea.
Ventos apressados num rodopio invertido.
Pétalas e folhas de outono e poeiras e sorrisos.
Não fosses tu, não fosse eu, se fôssemos nós.
Em lugares sem lugar,
tempos sem tempo, 
nós com tempo.
À chuva, ao sol, em mergulhos açucarados.
Beijos de doces de mel,
mares salgados nos gritos das vozes.
Nós e eu e tu e corvos entrelaçados.
Houvesse tempo ou mentes com tempo.
Livres de coração.

*13

Ageing

Photo by http://www.markusvoetter.com



This is a new territory.
A new world, filled with glimpses of past times.
I lock the door and sit on the floor, the clock on the wall keeps ticking.
seconds circling around...
minutes...  hours.
Days go by, it’s been months now.

I’m growing old within these new walls.
My skin is aged, tired of holding on to this soul.
My spirit is blind for staring at the sun or vampiring through the night.
There’s an invisible gravitational fight suspended in thin air,
Can you feel it flowing, turbulent?
Can you ignore it?
Or ignore ignorance  as a girl sings words in a strange language?
Illyrian, Pinyin, Euskara, Ugaritic or beautiful plain Algerian.
How many languages do you not know?
How many songs do you not hear throughout your days, your life?

To walk out.
Or to fly; learn all the names of the winds.
Zephyrus, Lawaan, Simoon, Sharaav.
Ethereal, eternal, intangible.
Take me there; I’ll hold on to your voice strings.
Words as a flying carpet that crashes constantly into an abyss of boredom.

And seconds circling around...
Take a picture, freeze all the clocks.
How much older am I since a moment ago?
One moment older?
Ageing with a smile.


*08

Tuesday, 26 February 2013

Unnamed Etheriality



Painting: "Unnamed Ethereality", by Leote Lamp Designs.

















Day 2:
The skies are back to normal. 
Grey.
Wandering crows.
Two souls want to be together.
Get to know each other.
Share colors of paintings and sounds of poetry.
And bite.
An ethereal approximation.
Beautiful electricity.
Wild winds.
Rhythmic beats.
Nothing is.

Where are the keys to the future?
In the present?
Distance bites. 

Distant bites. Fleshy wounds.
Spirituality then. 

Things of the soul.

Under grey skies, we'll be crows.



*13

Monday, 28 February 2011

Queda d'Alma num Rio.

Foto: "Escuto o Lamento das águas.", de Rita Aparício.


Um rio que foi feito só para te ouvir.

Que dizes, ou calas-te e pintas?

Dás-lhe silêncio, dás-lhe um olhar,
um sorriso tímido,
uma lágrima atrevida…
Dás-lhe um grito de alma que não sai,
uma tristeza discreta que não amargura,
apenas comove e tropeça no peito…
Ouves o crescer da vida nessa tua redoma,
nesse teu recanto secreto... 
O restolhar selvagem das folhagens verdes.

Onde é? Onde vais e te escondes quando queres cantar?

Onde apagas esse teu fogo,
esse arder laranja de fumos brancos
e ferros na forja e lavas incandescentes?
Ou é só paz, acalmia de espírito,
mergulhar em águas de outros tempos,
recordações de açúcar e algodão doce?
Pintas-te de que côr quando és tu?
Ninfa dos bosques, sereia-miragem de um riacho…
Elfa apaixonada, ente flutuante,
fantasma que paira e se arrasta…
Perdes-te em que tempos?
Ou páras relógios,
adormeces apenas,
numa paz de quem ama...
Sopra agora uma brisa que abraça,
que traz um aroma de vida.
Um lavar de alma
que a pinta de branco,
beijo de chuva miudinha,
erguem-se os ramos,
desce o cinzento dos céus,
descansa...


*08

Thursday, 25 September 2008

Suspenso

foto obtida aqui


Vejo-te, intermitente, enquanto agarro-me a esta parede escorregadia, coberta de musgo.
Arrasto-me na vertical, atinjo o patamar, um arco vazio no meio de nada.
Já não existem salas ou quartos, tudo é vento e chuva.
Agora sou e existo, de braços erguidos, a pintura nos olhos diluída pela água,
a roupa negra beijada de verde e terra, sujo-me entusiasticamente!
Sou besta selvagem em projecção sobre as paredes,
sou demónio fantasma guardião de colunas e fornos de pedra...
Solto rugidos em fúria, urro sobre os ventos,
gestos frenéticos perdem-se de mim em loucura desenfreada,
e um olhar vidrado dirigido aos céus,
não há tectos, também, neste meu reino,
tudo partido e perdido sobre o chão,
tudo velho e gasto e usado,
como esta alma acorrentada...
Atiro-me num vôo, asas de anjo negro, sorrio.
Vejo-te, intermitente, enquanto meu olhar é tinta negra e pálpebras negras.
Pausado o tempo, preso no espaço, restas tu.



A ti, Shu. Ainda. *08

Wednesday, 13 August 2008

Criogenia

>foto obtida aqui


Um dia, apenas...
E abrem-se perspectivas de silêncios,
começam os kilómetros a consumir sentimentos.
Ou talvez seja exactamente o contrário.
Neva na noite, nevou ontem,
esfria-se a terra.
Tremores, arrepios.
Dói, calares-te.
Tu e tu e tu.
Circunstâncias,
queria ter voz e matar,
queria gritar e berrar,
inspirar tua mágoa,
beber-te e consumir-te.
Um dia, apenas,
bastou pra me deixar mais só.
Tempo, voa, traz-me o amanhã...
Venda-me o olhar,
press pause,
hold still,
stop all the clocks,
venda-me o olhar.
Volta. Volta. Volta.
Tremores, arrepios.
Dói, calares-te.
Tu e tu e tu.



*08

Sunday, 3 August 2008

Transparências Flutuantes

foto obtida aqui


Transparências flutuantes, medusas fantasmas em busca de côr.
Um mar de outra voz, ondulação de desejos.
Terra que chora, palpitações de núcleos.
Fumaças estáticas desprendem-se dos lábios.
Tudo unido numa harmonia geral.
Numa conjugação de factores na criação dos factos.
O cair das pálpebras na procura de uma fotografia mais real.
O nascer de uma forma palpável.
Transformação de uma ideia abstracta num sentimento de tijolos e cimento.
Como corpos físicos a desafiar a gravidade.
Sem asas, sem propulsores.
Como transparências flutuantes, medusas.
O canto arrepiante das aves.
O grito agudo das águias.
Um esgar que nasce no fundo da garganta.
Um abrir de braços em pleno vazio.
Tentativa frustada de agarrar o que não se vê.
Distúrbio nas canções que cantam nos peitos.
A suplicação a entidades que nunca respondem.
Encostar cansado das mentes nas janelas.
Vibrações nas ondas eletromagnéticas.
A propagação no coração.
Comunicação telepática, de mundos que se amam.
A paz numa lente dirigida ao céu.
Um raio incorpóreo em busca da verticalidade.
Sem limites, estratosfera.
Como transparências flutuantes, medusas.
Tudo é tanto, tudo é belo.
Como tu no meu mundo.
Fazendo-me Viver.


A ti, Shu. *08