Thursday, 25 September 2008

Suspenso

foto obtida aqui


Vejo-te, intermitente, enquanto agarro-me a esta parede escorregadia, coberta de musgo.
Arrasto-me na vertical, atinjo o patamar, um arco vazio no meio de nada.
Já não existem salas ou quartos, tudo é vento e chuva.
Agora sou e existo, de braços erguidos, a pintura nos olhos diluída pela água,
a roupa negra beijada de verde e terra, sujo-me entusiasticamente!
Sou besta selvagem em projecção sobre as paredes,
sou demónio fantasma guardião de colunas e fornos de pedra...
Solto rugidos em fúria, urro sobre os ventos,
gestos frenéticos perdem-se de mim em loucura desenfreada,
e um olhar vidrado dirigido aos céus,
não há tectos, também, neste meu reino,
tudo partido e perdido sobre o chão,
tudo velho e gasto e usado,
como esta alma acorrentada...
Atiro-me num vôo, asas de anjo negro, sorrio.
Vejo-te, intermitente, enquanto meu olhar é tinta negra e pálpebras negras.
Pausado o tempo, preso no espaço, restas tu.



A ti, Shu. Ainda. *08