Um rio que foi feito só para te ouvir.
Que dizes, ou calas-te e pintas?
Dás-lhe silêncio, dás-lhe um olhar,
um sorriso tímido,
uma lágrima atrevida…
Dás-lhe um grito de alma que não sai,
uma tristeza discreta que não amargura,
apenas comove e tropeça no peito…
Ouves o crescer da vida nessa tua redoma,
nesse teu recanto secreto...
O restolhar selvagem das folhagens verdes.
Onde é? Onde vais e te escondes quando queres cantar?
Onde apagas esse teu fogo,
esse arder laranja de fumos brancos
e ferros na forja e lavas incandescentes?
Ou é só paz, acalmia de espírito,
mergulhar em águas de outros tempos,
recordações de açúcar e algodão doce?
Pintas-te de que côr quando és tu?
Ninfa dos bosques, sereia-miragem de um riacho…
Elfa apaixonada, ente flutuante,
fantasma que paira e se arrasta…
Perdes-te em que tempos?
Ou páras relógios,
adormeces apenas,
numa paz de quem ama...
Sopra agora uma brisa que abraça,
que traz um aroma de vida.
Um lavar de alma
que a pinta de branco,
beijo de chuva miudinha,
erguem-se os ramos,
desce o cinzento dos céus,
descansa...
*08