Vejo-te, intermitente, enquanto agarro-me a esta parede escorregadia, coberta de musgo.
Arrasto-me na vertical, atinjo o patamar, um arco vazio no meio de nada.
Já não existem salas ou quartos, tudo é vento e chuva.
Agora sou e existo, de braços erguidos, a pintura nos olhos diluída pela água,
a roupa negra beijada de verde e terra, sujo-me entusiasticamente!
Sou besta selvagem em projecção sobre as paredes,
sou demónio fantasma guardião de colunas e fornos de pedra...
Solto rugidos em fúria, urro sobre os ventos,
gestos frenéticos perdem-se de mim em loucura desenfreada,
e um olhar vidrado dirigido aos céus,
não há tectos, também, neste meu reino,
tudo partido e perdido sobre o chão,
tudo velho e gasto e usado,
como esta alma acorrentada...
Atiro-me num vôo, asas de anjo negro, sorrio.
Vejo-te, intermitente, enquanto meu olhar é tinta negra e pálpebras negras.
Pausado o tempo, preso no espaço, restas tu.
A ti, Shu. Ainda. *08
15 comments:
Que belo texto, tão expressivo, intenso.Como tu, meu amigo.
Beijinhos deste lado do mar.
Maria
foi algo fantástico... adorei... aliás penso que é um dos poemas mas lindos que escreveste... bjos mamã
então??? não há mais??? eu sei que há!... beijo grande! manda novidades
micá
Lindoo!!!
Com a tua marca e profundidade tão característica.
Um beijinho.
Maria
saudades dos teus escritos,...
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bela escrita. abraço man!
Ao fim de uns anos a suspeitar da existência deste teu sitio finalmente encontrei-o.
Alta Qualidade :)
P.Coelho
"e um olhar vidrado dirigido aos céus, não há tectos, também, neste meu reino, tudo partido e perdido sobre o chão, tudo velho e gasto e usado, como esta alma acorrentada..." adorei Bruno, espectacular mesmo. Estou fã assidua deste teu espaço, podes crer!
Beijinhos, prima Mariana do Porto :)
maravilhoso
Obrigado. :)
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O teu blogue morreu tão cedo.
A ver se renasce.
:)
Abraço!
Até breve!
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:)
Thanks!
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